Como transformar influência digital em roteiro inteligente sem virar refém de modinha.
O cliente entra na agência com o celular aberto no Reels, no TikTok ou no Shorts, aponta para a tela e fala que quer exatamente aquele roteiro. Isso já é rotina no balcão e no atendimento online. Não é modinha passageira, é comportamento consolidado de planejamento de viagem.
Para o trade turístico brasileiro, isso traz uma mistura de oportunidade e dor de cabeça. De um lado, o desejo do viajante vem muito mais claro. Ele mostra o clima da viagem, o tipo de restaurante, o nível de glamour, o ritmo do dia. De outro, quem trabalha na agência precisa traduzir um vídeo de poucos segundos em um roteiro possível, seguro e honesto para o cliente.
O problema começa quando o time precisa pausar o vídeo várias vezes para entender o nome do lugar, descobrir o bairro, ver se o lugar existe mesmo, se não é só um cenário bonito com avaliação baixa, fila eterna ou preço fora da realidade do passageiro. E tudo isso em um atendimento que já está sob pressão de tempo.
Além disso, copiar legenda ou texto de influenciador não é opção. Conteúdo em rede social continua sendo obra protegida. A agência precisa de inspiração, não de plágio. E precisa fazer isso sem esbarrar na Lei Geral de Proteção de Dados, que exige cuidado com qualquer dado pessoal coletado e armazenado no processo de venda.
A dor concreta de trabalhar com roteiro que vem pronto do vídeo
Na prática do dia a dia aparecem alguns problemas bem objetivos.
O time perde tempo assistindo e reassistindo vídeos. Quando são quatro ou cinco links diferentes que o passageiro manda, o trabalho se multiplica. Falta padrão. Cada consultor desenvolve seu jeito de anotar os lugares, buscar no Google Maps, checar TripAdvisor, ver se o lugar realmente entrega o que o vídeo promete.
Existe o risco reputacional. Se a agência simplesmente replica o vídeo sem checar avaliações recentes, logística, horário e preço, quem sofre é a marca do agente de viagens, não o criador de conteúdo. O passageiro volta reclamando do restaurante caro e ruim, da atração lotada, do “ponto secreto” que já virou pega turista.
A operação fica pouco escalável. Em vez de ter um fluxo organizado, a empresa depende da habilidade individual de cada pessoa para investigar links. Isso pesa ainda mais em times pequenos, onde todo mundo faz vendas, operação e pós venda ao mesmo tempo.
E no fundo, ninguém tem tempo sobrando para fazer tudo isso com calma em alta temporada.
A oportunidade escondida nesse comportamento do viajante
Ao mesmo tempo, essa onda de “quero esse roteiro do TikTok” abre espaço para quem souber trabalhar bem com dados.
O passageiro já chega com um briefing emocional pronto. O vídeo mostra se ele sonha com viagem gastronômica, com cenário cinematográfico, com balada, com natureza silenciosa ou com viagem instagramável de look do dia. Isso é ouro para quem sabe construir produto sob medida.
O que falta não é mais inspiração. Falta uma camada de inteligência que traduza esses links em algo que faça sentido para o trade. Ou seja, transformar vídeos em lista de lugares, horários, tipo de experiência, preço médio, nível de lotação, temporada, eventos na data da viagem, sem perder tempo e sem depender de copiar texto de ninguém.
Se essa etapa for bem resolvida, a agência ganha uma vantagem concreta. Consegue responder mais rápido, com menos retrabalho, e ainda com argumento forte de venda não é só o roteiro do influenciador, é o roteiro do influenciador passado pelo filtro profissional da agência.
O que o módulo Roteiro Influencer faz na prática
Pensando nesse cenário, a Konzup Hub desenvolveu o módulo Roteiro Influencer, voltado exclusivamente para empresas do trade turístico. Não é ferramenta B2C nem brinquedo de curiosidade. É um apoio operacional para agências de viagens, operadoras e guias profissionais.
O funcionamento é direto. A empresa cola de um a cinco links públicos de vídeos ou posts, em plataformas como TikTok, Instagram ou YouTube. A ferramenta analisa esses conteúdos, identifica os destinos e os locais citados, entende o estilo de viagem sugerido e monta um esqueleto de roteiro profissional.
O texto que aparece para a agência não é cópia de legenda nem de roteiro de influenciador. O sistema usa os vídeos como gatilho de informação. Extrai lugares, temas, ritmo de viagem e, a partir disso, gera um texto original em linguagem pensada para o cliente final da agência. Nada de reaproveitar frases prontas de terceiros.
Depois dessa leitura inicial, o módulo consulta dados públicos de mapas e reviews. Verifica nota média, número de avaliações, faixa de preço e comentários relevantes. Se o restaurante é lindo no vídeo, mas acumula avaliações muito ruins, o sistema sinaliza. Em vez de vender a imagem sem filtro, a agência recebe um alerta para verificar aquela indicação com mais cuidado.
Outro ponto importante é a sugestão automática de alternativas semelhantes. Quando um lugar parece cilada pelo conjunto de avaliações, o módulo busca opções parecidas na mesma região e na mesma faixa de preço, com nota mais alta. Assim, o agente não fica travado na experiência de um único influenciador e mantém a essência do pedido do cliente, porém com qualidade melhor.
O resultado é um roteiro que junta tendências de rede social com curadoria profissional. A inteligência artificial faz o trabalho pesado de leitura, cruzamento de dados e organização. A inteligência humana decide o que entra, o que sai, como encaixar com o orçamento, com o perfil do passageiro e com os acordos comerciais da empresa.
IA somada à inteligência humana, não o contrário
O Roteiro Influencer foi pensado para ser um acelerador de trabalho, não um substituto da equipe. Ele reduz o tempo gasto nas tarefas mecânicas
assistir vídeo, anotar lugar, procurar no mapa, checar nota, ler reviews repetidos. Com isso, o time pode focar onde realmente faz diferença entender o contexto da viagem, ajustar expectativas, montar combinações criativas, negociar melhor com fornecedores.
Em vez de brigar com o fato de que o passageiro se inspira em influenciadores, a agência passa a usar esse comportamento a favor. O vídeo deixa de ser ameaça para virar matéria prima. A ferramenta organiza os dados, mas a decisão final continua com quem está do outro lado do balcão ou da tela.
Essa lógica também protege o trade de duas armadilhas comuns. A primeira é virar escravo de conteúdo viral sem olhar o básico, como segurança, qualidade e logística. A segunda é perder clientes porque não consegue responder rápido ao tipo de pedido que já domina as redes.
Com uma camada de inteligência artificial bem desenhada e regras claras de uso de dados, o módulo permite que o trade abrace a tendência sem abrir mão da responsabilidade profissional.
LGPD e respeito ao conteúdo de terceiros
No desenho do Roteiro Influencer, a preocupação com LGPD e com propriedade intelectual não é detalhe de rodapé.
Em relação à proteção de dados, o módulo foi concebido para operar com o mínimo de informação pessoal. O foco da ferramenta é B2B. O que fica armazenado são dados da empresa usuária como e mail comercial para acesso e algumas estatísticas de uso da própria ferramenta. Dados de passageiros finais não são requisito para gerar o roteiro e não precisam ser cadastrados ali. Caso a agência decida registrar dados do cliente, isso continua sendo responsabilidade do seu próprio CRM ou sistema de gestão.
A base da LGPD é simples. Coletar o mínimo necessário, informar com clareza para que serve, e permitir que o titular peça acesso e exclusão. Ao manter o módulo enxuto, voltado a leads corporativos e métricas gerais, fica mais fácil cumprir esses pontos.
Sobre conteúdo de terceiros, o sistema trabalha apenas com links públicos e usa essas fontes para extrair informação objetiva sobre lugares e experiências. Não há cópia de legenda, não há reprodução de texto de blog, não há uso de imagem externa no material exibido para a agência. A ferramenta gera descrições novas, com vocabulário próprio, e evita citar nomes pessoais ou perfis específicos de criadores.
Isso reduz o risco jurídico e, mais importante, reforça o papel da agência como autora do serviço que está sendo vendido. O roteiro final é da empresa que atende o passageiro, não do influenciador.
Por que faz sentido olhar para isso agora
Se o comportamento do viajante já mudou, faz pouco sentido manter o processo interno parado no tempo. O que o módulo Roteiro Influencer propõe não é abandonar o jeito clássico de montar viagem, e sim criar um atalho inteligente entre o mundo dos vídeos curtos e a realidade do balcão.
Quem conseguir traduzir esse atalho em prática ganha três coisas ao mesmo tempo mais produtividade, mais segurança na indicação de experiências e mais aderência ao desejo real do cliente.
No fim do dia, o que faz o passageiro voltar não é só ter feito a mesma foto do influenciador, e sim sentir que alguém cuidou do roteiro dele com critério. Usar IA para acelerar essa curadoria, sem abrir mão da inteligência humana, pode ser o próximo passo natural para muitas agências e operadoras que já estão com a agenda cheia de links de TikTok, Reels e Shorts esperando na caixa de entrada.
Fonte: Panrotas, Rosa, J. P. “Reflexões sobre a exposição e o consumo do viajar nas redes sociais”, Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 2022, Costa Soares, R. A. M. “Revisão sistemática da produção científica brasileira sobre turismo e mídias sociais”, Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 2022, O Hoje. “Viajantes promovem turismo ‘instagramável’ pelo território nacional”, 15 fev. 2021 e TripAdvisor.





